Taí uma expressão que reflete o determinismo social. Pobre sempre será pobre; feio sempre será feio, burro sempre será burro.

Frases como essa rotulam e definem as pessoas, contribuem para a perpetuação dos preconceitos e racismos. E como todas as expressões e ditados populares, precisamos parar e pensar sobre o que tem por trás dela e como isso afeta nossa maneira de ver o outro e a nós mesmos.

Uma das coisas que me chamam mais atenção é quando alguém diz coisas tipo: esse cara nasceu na favela, mas é honesto!, ele é nordestino, mas é trabalhador!

Confesso que só de escrever isso fico com o estômago embrulhado. E olha que essas frases já escutei de pessoas muito queridas. Elas falam isso porque acreditam que toda pessoa que mora na favela é bandido e que todo nordestino é preguiçoso. Mas acho que a pior coisa que ouvi foi um colega de faculdade se negando a assistir a aula de um professor porque ele era negro, esse professor era o Milton Santos.

Todo preconceito tem sua origem histórica e econômica que é mantido como forma de perpetuar e engessar esses lugares sociais. Não pode haver transição! Fomos domesticados a acreditar que só os muito especiais conseguem quebrar esse determinismo, tarefa dos mais heróicos, mais inteligentes ou dos mais sortudos. Esses são exceções, a regra é a regra.

Essa é uma das justificativas das cotas sociais e raciais. Possibilitando o maior acesso à educação e à formação das pessoas historicamente excluídas, elas ocuparão lugar diferente daquele que estamos acostumados a vê-las e poderemos mudar nosso o olhar sobre elas, reduzindo a discriminação e quebrando esse determinismo que diz que elas nasceram assim e serão sempre assim.

E isso acontece também no nosso íntimo. Frases que ouvimos, rótulos que recebemos, lugares em que fomos colocados, têm a força de uma verdade sobre nós e passamos boa parte de nossa vida – se não toda ela – lutando para desconstruir.

Coisas do tipo: nossa você é burro, nunca vai ser alguém na vida!, pode ressoar tanto que você passa a acreditar nisso. Toda vez que tenta fazer algo, já começa desacreditando, afinal, você é uma porcaria mesmo… Ou pior, pode nem tentar, seria uma ilusão, melhor aceitar isso de uma vez.

E coisas assim podem acontecer em relação à abundância (você nunca vai ganhar dinheiro!), para o amor (do jeito que você é, ninguém vai gostar de você) e para tantas outras coisas: você não nasceu para ser mãe/pai, para ser amade, para se realizar, para ser saudável, para ser feliz! A mensagem por trás disso é: aceite que é assim e será assim!, conforme-se, de nada vai adiantar você lutar, se esforçar, trabalhar-se, sua vida já está definida!

Afinal, pau que nasce torto, morre torto, não dá para mudar. Quem nasceu para tostão nunca vai chegar a ser vintém, conforme-se.

Quando pensamos e refletimos sobre essas coisas podemos mudar, a não ser que você acredita que isso tudo é imutável. No que você acredita?