Existe coisa pior do que quando você está em sofrimento alguém dizer que tem gente que tem muito mais motivo para chorar? Que sua vida é farta, que você tem tudo que precisa, que não passa fome, que tem saúde?
Se é uma criança ou um adolescente, alguém fala: “até casar sara!” Essa expressão então, merece um texto só para ela!
Muito chato! Além de chato é perverso! Invalida o sentimento, coloca-o como frescura, mesmo que seja uma tentativa de minimizar a dor (pode ser com boa intenção. Será?). Parte disso vem da crença de que sofrimento que é sofrimento vem da doença física, da carência material, da morte de alguém querido. A dor emocional e psíquica é desqualificada.
De tanto ouvir esse tipo de coisa, vivemos um verdadeiro inferno interior em que o sofrimento existe, mas que a razão diz para deixar para lá, que isso é bobagem, nada de mais. Nós mesmos desqualificamos o que sentimos. Dessa maneira, aprendemos a nos desconectar e a desconsiderar o nosso mundo emocional. Não procuramos apoio e acabamos chorando sozinhos e sendo nossos piores algozes.
Toda dor é verdadeira. Toda dor é real. Toda dor precisa e merece ser reconhecida.
Muitas vezes, a partir do reconhecimento e validação da dor, há uma visível melhora porque as dores emocionais, as dores de alma precisam ter espaço de expressão e acolhimento e quando isso acontece já é o começo da cura.
Validar e cuidar do que dói, seja em você, seja no outro, faz com que essa dor, no mínimo, pare de crescer.
Mas, esse ditado tem outro lado importante a observar e que talvez, apenas talvez, justifique sua existência: somos pouco gratos pelas boas coisas!
O exercício da gratidão e da celebração daquilo que preenche e alegra nosso coração e alma é pouco praticado. Focamos muito na falta, na carência, no que se perdeu, no que se foi e olhamos pouco para o que abunda, que viceja, que ainda pulsa; olhamos pouco para o amor que ainda está vivo, para o aprendizado, para os bons momentos, como se o ruim encobrisse tudo que há e houve de positivo e de valioso.
Há muito lamento e reclamação, ou melhor, há o persistente hábito em reclamar e lamentar. Como ser feliz assim?
As dores merecem ser cuidadas e amparadas, assim como merecem reconhecimento as dádivas da vida na forma de seres, ações, coisas ou simplesmente pela maior delas, a própria vida!
Então, reconheçamos e acolhamos nossa dor, mas também encontremos espaço para sermos grato e celebrarmos as boas coisas que da vida!