Assim como não se fala em corda em casa de enforcado, não se fala em dor em casa de doente; não se fala em morte, em casa em luto… Não se fala no que incomoda, não se fala, se cala.
Precisamos falar sobre isso! Precisamos falar , conversar. Precisamos nos conectar com aquilo que dói dentro de nós, precisamos falar e sermos ouvidos. O problema não vai embora porque não olhamos para ele. A dor não passa porque não falamos dela. Precisamos rever esse conceito que o tempo cura tudo e que nada precisamos fazer para ajudá-lo.
Quantas mágoas, traumas, conflitos, raivas, medos, etc, etc, guardamos dentro de nós porque aprendemos e acreditamos que falar sobre eles era ruim, traria mais sofrimento. Criamos então o hábito de nos distrair da dor, de não olharmos para dentro e muito menos de falarmos sobre isso.
Saímos à procura de distração, o que não pode é olhar para o que está doendo: compensações da dor, compensações da carência, tentativas vãs de buscar autoestima e prazer. Prazer sem prazer, beber para esquecer, transar para se sentir vivo, distrair-se para não pensar… Mas, não passa. Quando o efeito da bebida passa, quando o outro corpo de separa do nosso, quando voltamos para casa, tudo volta, a dor continua no mesmo lugar, na mesma intensidade.
Quanto mais guardamos um sentimento, uma emoção, mais ela cresce. Cresce amarga e se alimenta de tudo aquilo que se parece com ela, vai ocupando cada vez mais espaço interno. Tudo aquilo que não é cuidado, olhado, expressado, torna-se um cancro que pode se materializar como doença física.
Ser escutado, efetivamente escutado, com atenção, com empatia, sem julgamentos, sem críticas, sem conselhos, apenas poder falar o que dói na alma, o que aperta o coração, o que faz a vida ser dura e vazia, é tão precioso e tão curador!
A doença, a morte, a perda não vão desaparecer, mas quando deixam de ser tabu para nós mesmos e quando podemos falar sobre elas torna tão mais fácil suportá-las, contribuem imensamente na redução do sofrimento emocional e psíquico. Quando falamos, nos sentimos menos sozinhos em nossa dor, ao aceitarmos nossa dor validamos sua existência, ao expressarmos o que sentimos damos vazão àquilo que está acumulado e ficamos mais leves e nos fortalecemos.
Em casa de enforcado não precisamos falar em corda, mas podemos escutar a dor de quem sofre. Se a casa do enforcado for nossa, que possamos falar sobre a corda e expressar nosso pesar.