5 de Espadas

5 de Espadas

Muitos alicerces e estruturas não impedem a queda, aumentam o tombo!

Construímos um mundo perfeito em nossas cabeças e buscamos na vida a validação dessa perfeição. Explicando melhor: definimos nossa moral, nossa ética, nossos valores como os melhores e mais corretos, e nos autodefinimos a partir deles. Somos, portanto, corretos, honestos, éticos e tudo o que há de melhor. (Não há nada de mal ter boa autoestima, o problema está em saber se isso é realmente autoestima ou se é uma busca pela perfeição e, consequentemente, pela aceitação.) O problema está no fato de que isso acontece em nossa mente, é uma concepção, não necessariamente uma realidade. Quando entramos em contato com o mundo e verificamos que a moral, a ética e os valores dos outros são diferentes, às vezes, muito diferentes dos nossos, tendemos a classificar e a julgar essas pessoas. Podemos ser muito críticos ao seu comportamento, sua estética, seu gosto, seu jeito, buscamos todas as diferenças para não nos identificarmos em nada com elas.

Esse olhar severo e crítico sobre os outros é, primeiramente, uma reação à “imperfeição”. A perfeição reside em nós, o diferente é imperfeito. Condenamos essa imperfeição, afinal, por que as pessoas não se esforçam para ser melhores, se eu estou fazendo o meu melhor o tempo todo? Tento fazer sempre o que é certo, como tem gente que faz o que bem entende? Não aceitamos a espontaneidade dos outros porque reprimimos a nossa. O pior é que esses “outros” não são punidos por fazerem errado e, mais, são muitas vezes elogiados! Daí é um passo para a fofoca, a inveja, a intriga e sofrimento. O fofoqueiro e o invejoso são mais sofredores do que seu alvo porque é o sofrimento que os faz agir de maneira maldosa. O sofrimento começa na mente.

Esse é outro aspecto dessa crítica, ainda mais perversa, a autocrítica. Se é crítico com o outro, é mais crítico consigo mesmo. Se a perfeição é a meta para o externo, é para o interno também. Autoexigência, rigidez, severidade consigo próprio! Mas, o que acontece quando não recebe os aplausos por tanto sacrifício? Ciúmes, vingança, manipulação, depressão. Se o mundo externo não consegue identificar como “eu” sou correto, honesto, justo tenho dois caminhos, o primeiro é considerar que o mundo está realmente muito mal, não sabe valorizar o que é certo, “por isso que tudo está desse jeito”. Sai na rua e critica tudo o que vê, todos fazem coisas erradas, o mundo está errado. Pode parecer o caminho mais fácil – afinal, não admite haver algo de errado consigo mesmo – mas é o de maior sofrimento a longo prazo. O segundo caminho, mais doloroso inicialmente, é começar a perceber que essas certezas e “virtudes” internas são alicerces frágeis, são estruturas mentais que criamos para nos dar segurança e evitar sofrimentos. Reconhecer que nos escondemos atrás delas para proteger uma parte de nós que desconhecemos, que é insegura, que é espontânea, é o início de um processo libertador.

Quanto mais força fizermos para validar nossas concepções sobre o mundo, quanto mais tentamos estruturar nossa mente, quanto mais buscamos externamente a validação dos nossos atos, mais nos distanciamos daquilo que realmente é importante: nossa essência!

Magda Kumara

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