15 O Diabo

XV – O Diabo

Todo condicionamento massacra os instintos!

Muitas coisas que fazemos – e consideramos como nossas características pessoais – foram aprendidas e/ou utilizadas como compensações. Compensação da falta de prazer, compensação da ausência de alegria. Posso não ter um trabalho que eu gosto, mas o salário compensa. Meu namorado não me trata muito bem, mas não fico sozinha. Ou ainda, podemos comer, fumar, beber para amenizar a ansiedade, a tristeza, a depressão. Melhor assim, se não, teríamos que dar “trela” àquilo que realmente queremos e desejamos e isso poderia nos colocar em maus lençóis!

Você pode achar que é um exagero, mas não é não! Quando observamos bem nossa vida, quando permitimos olhar com atenção às nossas reais vontades, percebemos que engolimos muitos sapos, abrimos mão de muitas coisas importantes, deixamos de lado sonhos…

Somos seres instintivos e esses instintos estão despertos desde a nossa mais tenra idade. Aliás, por sermos bípedes, nascemos antes de estarmos totalmente formados – como os outros mamíferos – e somos muito dependentes dos outros. Nosso instinto de sobrevivência é o primeiro a aparecer e começamos a identificar inconscientemente como podemos continuar vivos. E a sobrevivência não é apenas física, mas também emocional e psicológica. Percebemos o que devemos e o que não podemos fazer para receber atenção, carinho, afeto. Apesar de mal-formados, somos muito espertos! Mas, aquilo que parece nossa salvação, torna-se pouco a pouco nosso maior calvário.

Somos seres gregários, precisamos estar em grupo, não vivemos isoladamente! A solidão absoluta coloca em risco nossa vida. O olhar do outro, o toque do outro, o afeto do outro dão sentido à existência e em nome disso, somos capazes de sufocar nossos prazeres e alegrias. Mas já não somos bebês indefesos! Não precisamos agradar aos outros fazendo o que “eles” acham que é o certo para nós!  Mas quem são “eles”? São as verdades aprendidas, as verdades do que é certo ou errado, as verdades sobre o que somos e sempre seremos, as verdades que definem como devemos direcionar nossas vidas. 

Tem vontade de ser mais livre? Não pode, então compensa com outra coisa. Tem vontade de uma relação mais verdadeira? Melhor um pássaro na mão do que dois voando… então come chocolate. Compense, compense, mas não se arrisque a satisfazer sua vontade! Controle-se! Controle sua emoção, controle seu desejo, controle suas vontades!

Há uma imensa diferença entre uma mente saudável, em consonância com o corpo e os instintos, e a repressão, a auto-repressão de uma mente que tem medo de seguir seu próprio caminho, o caminho de todo seu ser!

Magda Kumara

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