Se era para chorar por que se separou?
Se era para chorar por que se separou?
Foi isso que ouvi de meu amado pai no dia em que voltei para São Paulo depois de 7 anos de casamento, vivendo em Salvador.
E chorava querendo dar uma resposta a ele. Queria lhe dizer que sofria pela separação, sofria pelo fim de um projeto de vida, sofria pela insegurança do que viria, sofria por perder a convivência com um homem que eu amava, mas que não amava mais como homem. Sofria por não ter mais minha casa, meu trabalho, o envolvimento sindical… e só podia chorar.
Depois de 7 anos estava de volta ao meu quarto da adolescência, entre medos e esperanças; entre o passado e o futuro; um intervalo.
Há quem acredita que aquele que vai embora está feliz, quem sofre é quem é deixado. O sofrimento da rejeição e abandono pode ser imensurável, mas não se pode dizer que o fim da relação não mexe e machuca os dois.
Sair de uma relação insatisfatória que ainda há amor pode parecer muito bizarro, quem ouve isso pode até argumentar: se há amor, há solução. Nem sempre é assim! Engana-se também quem pensa que havia abuso, agressividade, incompatibilidade. Não, nada disso! Havia muita amizade, respeito e companheirismo. Havia tanto afeto, tanta fraternidade que não havia espaço para o tesão, para o sexo, para a reunião de nossos corpos numa torrente de energia pura e abundante.
O sexo, ou a falta dele, ou a falta de qualidade dele, foi o motivo que me levou a partir, me levou a desconstruir uma vida aparentemente estável e feliz. A separação foi um choque para muitos e explicar o real motivo foi bem difícil.
Ser mulher e poder dizer para o mundo que quer mais do que um cara muito legal, dizer que quer sexo de qualidade, que quer sentir seu corpo vivo e vibrante, não é muito fácil. E não consegui dizer isso.
Por muito tempo me calei por achar que não era lícito. Dizer que me separei porque queria uma vida sexual saudável parecia quase pecaminoso, despudorado. Não era legítimo! As poucas vezes que ensaiei falar bem discretamente sobre isso, ouvi: mas casamento é isso, a amizade é mais importante!
Talvez essa frase tenha ficado tão presa em minha mente e no meu inconsciente que a partir de então resolvi que não queria mais me casar. Não tenho problemas com a solidão, na verdade até gosto dela. Não precisava me casar para ter amizade, tenho bons e queridos amigos. E se casamento mata o sexo, escolhi ter apenas o sexo.
Mas apenas o sexo também traz outras ausências, a principal delas é a do amor. Como ter uma troca fantástica quando apenas os desejos corporais estão envolvidos? Como chegar a plenitude efetiva, maior que o orgasmo físico, se não há uma comunhão de almas?
Acho que essa é minha busca hoje. Será que é essa a busca de tantos homens e mulheres? Será que essa busca não legitima separações e encontros?
Levei tempo demais para chegar a essa conclusão. Tempo demais… Mas, ter chegado a ela vale todo esse tempo!