10 A Roda da Fortuna

 

X – A Roda de Fortuna

Vemos o vai e vem das ondas e sabemos que não podemos contê-las, então por que tentamos conter o fluxo da vida?

“Para sempre”, “nunca mais”, “jamais farei novamente”, “para toda a vida” são expressões que estamos cansados de saber que não não se realizam. Então, por que buscamos a todo o momento o o amor eterno, o trabalho da vida, a estabilidade, a segurança, o controle? Se a única coisa que podemos ter certeza é que tudo tem fim, por que continuamos a esperar pelo permanente?

A maior causa de todos os nossos sofrimentos está na dificuldade de reconhecer a impermanência na vida e da própria vida. Sofremos porque quando vivenciamos algo muito bom, nos apegamos tanto àquilo que não queremos que ele se acabe. Fazemos tantos malabarismos, criamos estratégias, tentamos controlar, segurar, colocar cercas, muros para guardar e preservar aquele prazer que quando ele se acaba – em parte, até mesmo por ter sido tão sufocado – causa uma dor lancinante.

E eu pergunto novamente, por quê? Por que acontece tudo isso se sabemos que é impossível eternizar um prazer? Se a vida é tão dinâmica, por que forçamos tanto para que ela seja estática? Gastamos tanta energia nisso que nem mesmo gozamos a totalidade desse prazer. Perdemos a capacidade de perceber quando algo mudou, quando o sentir é outro, quando a sensação é diferente. Perdemos a maravilhosa oportunidade de novos sentires, novos sabores, novos prazeres.

O que um dia foi bom, não se torna de repente ruim. Deu prazer e satisfez. Quando se toma um copo d’água, após saciar a sede, ele não passa a ser ruim, ele FOI bom. Enquanto ele trazia o prazer e a satisfação ele FOI bom. Sua necessidade mudou, seu desejo mudou. Ele pode voltar, mas não agora. Não adianta continuar a tomar água e mais água. Sua sede já foi saciada!

Somos assim, a vida é assim. Vemos o rio em sua correnteza e quando tentamos barrá-lo sua água vai se acumulando, acumulando até que sai destruindo tudo pela frente, devastadoramente. Se sabemos disso, por que tentamos conter o fluxo de nossa própria vida.

Sejamos capazes de vivenciar e experenciar o prazer e a dor, aprendendo que tudo que vem, vai embora.

Magda Kumara

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