9 de Espadas
Acho que todo mundo já teve uma noite em que o sono não vinha, mesmo com o corpo bastante cansado. Quando a sonolência vencia, os sonhos eram recheados de pensamentos, como se ainda estivesse acordado.
A insônia frequentemente ocorre por excesso de pensamentos e por mais que se tenta desligá-los, não consegue. Mas o pior de tudo isso, é o tipo de pensamento. Segundo uma recente pesquisa norte-americana: “A insônia pode levar a um tipo muito específico de desesperança, e o desespero, por si só, é um poderoso preditor de suicídio”.
Esses pensamentos são autodestrutivos, extremamente críticos e cruéis. Quanto mais usamos a frieza da razão para avaliar nossa conduta e sentimentos, mais nos censuramos e condenamos nossos atos. Chega-se à conclusão de que é necessário reprimir, mais e mais, nossos impulsos e instintos, pois assim, não precisaremos passar por situações que acabam por nos expor e nos envergonham. E quanto mais enclausuramos nossa natureza animal, pior é sua expressão quando consegue escapar de nossa prisão mental. E então, temos que aumentar nossa segurança e reprimir mais e mais.
Dá para perceber as consequências disso? Esse estado mental é altamente cruel e destrutivo, essa constante autotortura leva a graves somatizações, provocando doenças físicas e psíquicas. A continuidade desse ciclo de repressão e autodestruição envenenam o corpo, reduzindo a vitalidade e a vontade de viver.
Lembra da Fiona da animação Shrek? Ela escondia seu lado ogro do mundo, na esperança de que um dia o beijo do amor verdadeiro a libertasse dessa maldição e ela pudesse ser sempre a linda princesa. Então, todos os dias, quando o sol estava se pondo, ela corria de todos para que ninguém visse sua faceta monstruosa, que tanto a envergonhava. E ela vivia esse conflito, quando humana ela tinha uma postura bastante agressiva; quando ogra ela era muito feminina e sensível. Mas, ela achava muito horrível ser aquele monstro e achava que o mundo a rejeitaria se a visse assim. Tudo o que ela queria era ocultar para sempre esse seu aspecto. Não foi isso o que aconteceu. O beijo do amor verdadeiro fez com que ela mostrasse seu lado mais verdadeiro – e porque não o mais belo – e ela ficou sempre na forma de ogro.
Apesar de um conto quase de fadas, essa historinha nos lembra que sufocamos tanto aquilo que achamos ruim dentro de nós, gastamos tanta energia, tantas noites de sono em auto-repreensões e auto-punições por termos sido espontâneos e autênticos, por termos deixado à mostra parte de nosso monstro, que nem cogitamos que podemos estar reprimindo o que temos de melhor!
Liberte-se dos grilhões da mente que distorce mais do que explica a realidade, durma bem e seja mais feliz!